terça-feira, 30 de março de 2021

Educação Musical para Todos

Sem música a vida seria um erro. (F. Nietzsche, 1844-1900)

Atesta a essencialidade da Música na vida do ser humano a famosa sentença de  Nietzsche. E, de fato, desde os primórdios a mais sutil das artes tem, para cada cultura, sua importância. Presente na paz e na guerra, na alegria e na tristeza; não há pátria sem hino, não há mãe que não cante uma cantiga para ninar a criança.

Sim, cantamos para celebrar aniversários e para lamentar a morte, para comemorar vitórias e para chorar derrotas. Mas o pensamento de Nietzsche está claro vai além da questão de se poder ou não poder ouvir. O filósofo enfim  goza de certa liberdade poética para estabelecer analogias que exemplifiquem o seu ponto de vista existencialista. Contudo, parafraseando o dito popular: o mais surdo é aquele que não quer ouvir!

Como hoje é sabido (conforme demonstrado no vídeo exemplo anexo deste artigo), a Música independe da capacidade plena ou parcial de ouvir.


Logo, é mister que surdos e deficientes auditivos também tenham garantidos direito e acesso a Educação Musical.

Tempo para as Belas Artes

Há não muito tempo atrás, cinquenta, cem anos, ainda o homem tinha mais tempo livre, mesmo vivendo em sociedades modernas, para se encantar com passatempos. Nestes tempos passados, no Brasil, eram raras as casas de família em que não houvesse ao menos um musicista. O mundo ainda dependia intensamente da música orgânica e, por volta de 1930, era comum a contratação de cantores e musicistas, aumentando a competitividade entre artistas, culminando no surgimento constante de aspirantes (CALABRE, 2002). CALABRE, Lia. A era do rádio. Rio de Janeiro: Jorge Zaar Ed., 2002.

Com o advento da tecnologia digital, a convenção da Internet e o avanço desenfreado da indústria moderna, o mundo vem trocando de valores. A sociedade tornou-se ainda mais materialista, diminuindo o contato do ser humano com o abstrato e com o profundo.

Ora, o ser humano globalizado que se formou a partir destas mudanças já não tem tempo para escolher, experimentar, aprofundar-se. Precisa ser oportuno, rápido e, para tanto, busca permanecer no raso.

Um País Musical Analfabeto-Musical

No Brasil a cultura Musical é riquíssima. São milhares de talentosos e virtuosos tocadores, violonistas, percussionistas e vocalistas. Parte chega a ser internacionalmente reconhecida e consumida. Generalizando, todo jovem brasileiro sonha ou já sonhou com atingir à fama através da sua arte.

Um fato é que entendemos música, fazemos música, mas poucos de nós sabemos ler e escrever música.  Vale ressaltar que apenas a alguns anos a Educação Musical se tornou obrigatória no Ensino Fundamental e Médio da Escola Normal.

Lei 11.769 determina a obrigatoriedade da música na escola

O presidente Lula sancionou no dia 18 de agosto de 2008, a Lei Nº 11.769, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica. A aprovação da Lei foi sem dúvida uma grande conquista para a área de educação musical no País. Todavia, há também grandes desafios que precisam ser enfrentados para que possamos, de fato, ter propostas consistentes de ensino de música nas escolas de educação básica.

O trecho acima, extraído do site da ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical), disponível no endereço <http://abemeducacaomusical.com.br/artsg2.asp?id=20> até a data desta publicação, apresenta o cenário vivido pela militância pelo direito e o acesso a Educação Musical para todos no Brasil.

Novos Tempos

Enquanto educador musical, especialista em educação especial e inclusiva, penso que a maneira de se aprender e ensinar música pode e deve mudar, abrindo-se novas possibilidades de recursos que apoiem e tornem mais atrativas as aprendências, incluindo, sobretudo a tecnologia. Não funciona comprar instrumentos baratos, sem timbre, sem qualidade, simplesmente porque a legislação exige o menor orçamento. Assim tem sido feito, quando na verdade é preciso um olhar mais técnico. É preciso que se estabeleça, com a ajuda dos profissionais correspondentes, os requisitos mínimos que devem ser atendidos para garantir o melhor investimento. O desperdício de recursos é evidente, tenho observado trabalhando em diversas regiões do país.

Uma sugestão, além da aceitação e inclusão de instrumentos da música regional, incomuns até hoje no ensino de música nas escolas exceto em suas regiões de origem, tais como o berimbau, o pífano e a rabeca, o desenvolvimento de soluções atrativas a partir do uso de novas tecnologias (games, beatbox, apps) tudo pode e precisa ser usado para a criação de propostas consistentes de ensino da Música nas escolas, respeitando e incluindo, especialmente, todas as culturas musicais brasileiras.