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segunda-feira, 11 de março de 2024

Afromusicalidades Universais

Instituto Caraguava em Ação realiza projeto com recursos da LPG 2023 em Peruíbe


Contemplado pelo edital 02/2023 da Lei Paulo Gustavo em Peruíbe, o projeto “Afromusicalidades Universais” consiste na produção de um grande espetáculo musical, com uma apresentação pública totalmente gratuita, com a participação direta dos alunos do ICA, Instituto Caraguava em Ação, sob direção executiva de Leandro Diamante, autor da proposta.

O evento conclusivo será realizado em 11 de abril às 14h, em perímetro escolar, com anuência da E.M.E.F. Ivete Santana Pinto, rua Piracicaba, 3025, Nova Itariri. O espetáculo reunirá peças musicais, de domínio público - nacionais e internacionais - que serão orquestradas pelas famílias dos metais, das madeiras e da percussão. As apresentações ocorrerão por nível de conhecimento, sendo primeiro os alunos iniciantes seguidos dos mais avançados.

Sediado na região periférica de Peruíbe, o Instituto Caraguava em Ação atende mais de 150 munícipes, entre crianças e adolescentes, com atividades no campo da Música, da Dança e do Esporte. A missão do Projeto é promover o desenvolvimento humano e a cidadania dos munícipes a partir da oferta de atividades artísticas e culturais profissionalizantes, tais como as aulas de música e de balé, realizadas em espaço mantido pela organização, regularmente, ao longo dos cinco anos de trabalho na comunidade de Caraguava. Não sem motivos, já recebeu diversas menções e elogios públicos, inclusive do Poder Público Municipal, especialmente dada a qualidade das apresentações promovidas sob direção do seu coordenador, o maestro Leandro Rogério Sant Ana.

O educador musical e empreendedor social, maestro Leandro Sant Ana, diretor executivo do projeto  e recebedor do prêmio, foi também o idealizador do movimento que deu nome ao instituto. Nas suas palavras:

Eu moro no bairro há mais de 20 anos. Há cinco anos atrás comecei a perceber que faltava uma ação para ajudar a diminuir a vulnerabilidade das crianças e adolescentes do bairro, devido ao evidente aumento de crianças ociosas e marginalizadas. Com a ajuda de outros moradores improvisamos um primeiro local onde chegamos a atender cinquenta crianças.

(Fonte: entrevista gravada para elaboração do Projeto, conduzida pelos elaboradores). 

O projeto “Afromusicalidades Universais” conta ainda com o talento dos jovens educadores Rafaela Vacholz Lemos, professora de Flauta, Janyne Valladares Bauer, educadora artística e coreógrafa de dança e Luan Lucas Pereira e Renato Dias Ferreira, educadores musicais. O ICA conta com o apoio de todos. Mais informações, enviar email para: projetos.caraguavaemacao@gmail.com

Realização:

GOVERNO FEDERAL - MINISTÉRIO DA CULTURA
LEI PAULO GUSTAVO

PREFEITURA MUNICIPAL DE PERUÍBE
SECRETARIA DE CULTURA

Apoio:
@ica @leandrodiamante @clubedebambas @alternativasecretariavirtual

#LPG2023 #LPGPERUIBE
#ica #caraguavaemacao #leandrodiamante

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Gigante Rasteiro: De Pai Pra Filho

Ariovaldo e Arizinho 7 Cordas se reúnem para primeiro ensaio em ato oficial de abertura do projeto contemplado no edital ProAC 14/2023


“Gigante Rasteiro: De Pai Pra Filho” é o nome do álbum, fruto esperado do projeto de Arizinho 7 Cordas, que surge entre os vencedores do edital ProAC 14/2023 da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo. O projeto objetiva o registro de composições autorais instrumentais, do gênero Choro, em especial da obra Gigante Rasteiro, de Arizinho 7 Cordas em homenagem ao pai Ariovaldo 7 Cordas.

O encontro é de dois gigantes do violão-de-sete-cordas que ajudaram a fazer a história do Choro e da Seresta na Baixada Santista: Ariovaldo 7 Cordas, o pai, ainda muito jovem, já acompanhava no violão grandes nomes da música popular brasileira, incluindo Nelson Gonçalves. Arizinho, seguindo a trilha do pai, notadamente virtuoso, é reconhecido em São Paulo e também no Rio de Janeiro.

As composições serão orquestradas pelo grupo Aqui Tem Choro, com Nino Barbosa (pandeiro), Paulinho Ribeiro (cavaco), Maestro Toledo (Flauta e Sax) e convidados especiais, com produção musical de Arizinho 7 Cordas e direção artística de Cris Teodósio, maestro e produtor cultural da OCABS, produtora gestora do projeto.

O evento inaugural, por se tratar de um ensaio, será aberto apenas aos músicos, equipe de produção e convidados especiais da direção executiva. Será realizado no Estúdio El Sonido, em Santos, a partir das 19h do dia 27 de novembro, com trechos principais transmitidos ao vivo publicamente pela internet.

Serviço:

Local: Estúdio El Sonido, Santos-SP
Entrada: Lista de Convidados
Data e Hora: 27/11/2023 a partir das 19h
Programação: Ato Inaugural e 1º Ensaio Canal de transmissão ao vivo: https://www.facebook.com/ocabsbrasil
Direção Executiva: Arizinho 7 Cordas
Jornalista Responsável: Márcio Ribeiro

ProAC 14/2023 - Música
PROAC EDITAIS
Programa de Ação Cultural São Paulo

@arizinho7corda @aquitemchoro @clubedebambas

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas
#ProAC2023

#projetodepaiprafilho #arizinho7cordas #aquitemchoro #clubedebambas

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Muito samba no encerramento do Projeto CEM, sábado (27), em Cubatão

Viva Cartola, 115 anos! Crianças e adolescentes executam peças da obra de Cartola em Audição Musical do projeto CEM



“Cartola É Minha Escola” é o tema da festa de encerramento do projeto CEM - Centro de Educação Musical em Pinhal do Miranda - que será realizada no último sábado deste mês (27/05), no Coletivo Novo Paraíso, que fica à Rua Faixa do Oleoduto, 6. Organizado pela OCABS - Organização Cultural e Artística da Baixada Santista - o projeto cultural, contemplado pelo edital Proac 45/2022 CIDADANIA aconteceu no bairro Pinhal do Miranda (também conhecido por Pinheiro do Miranda), entre janeiro e maio deste ano de 2023, em Cubatão, e atendeu cerca de trinta munícipes diretamente, com oficinas de canto-coral, cavaquinho, violão-de-sete-cordas, pandeiro, cuíca entre outras. Ao todo foram realizadas 50 oficinas, incluindo eventos especiais com artistas profissionais da região da Baixada Santista.

A programação do evento de encerramento conta com um ato de abertura e palestra profissional do sambista ícone Giba do Sapatinho (Gilberto de Oliveira), proponente do Projeto. Na sequência, os educandos participarão de uma audição musical, executando três peças da obra de Cartola, com frases originais do imortal Dino 7. Destacam-se os educandos Gabriel, de 5 anos (tamborim), Evelyn, de 15 anos (cavaquinho), Eric, de 16 anos (timba) e Samyr, de 17 anos (violão-de-sete-cordas), quarteto fantástico que encanta nos ensaios e nas apresentações.

O espólio do Projeto, instrumentos e equipamentos comprados com recursos do ProAC Editais, serão entregues à comunidade, por meio de doação, no ato, ao espaço cultural Coletivo Novo Paraíso, sob responsabilidade do anfitrião André Luiz.

O coordenador das oficinas, maestro, especialista em Metodologia do Ensino da Música e Musicoterapia, Cris Teodósio César, compreende que o Projeto atingiu com sucesso aos objetivos originais, promovendo cidadania, através das atividades musicais e artísticas em geral realizadas. 

O Projeto CEM buscou oportunizar às crianças uma experiência valiosa no universo do Samba, um dos nossos maiores patrimônios culturais imateriais. Esperamos que esta semente germine, pois o solo é  muito fértil. (Msto. Cris Teodósio).

O evento finaliza com a apresentação do grupo local “Sempre Dá Samba" comandado pelo artista Rubão (voz e cordas) e amigos na percussão, garantindo a alegria até às  21 horas, entrada franca. 

Confira a programação completa do evento:

  • 16h - Recreação Infantil com Fernanda Campos
  • 17h - Palestra “Formação de Músicos Profissionais para a MPB” (Giba) 
  • 18h - Audição: apresentação dos educandos do Projeto
  • 19h - Show de encerramento com o grupo “Sempre dá Samba” 
  • 21h - Ato de Encerramento com a palavra do Proponente

Serviço

Evento: Encerramento do Projeto CEM

Local: Coletivo Novo Paraíso

Endereço: Rua Faixa do Oleoduto, 6, Pinhal do Miranda, em Cubatão /SP

Horário: 16:00 às 21:00h

Mais Informações: 13 99697-7244

Entrada: Evento gratuito, aberto a todes, todos e todas.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Cacique Ubiratã Gomes lança livro infantojuvenil bilíngue em Peruíbe

“Urutagwa: o guerreiro que virou pássaro” traz seus textos em Português e Tupi, além de audiolivro e livro virtual


O livro intitulado "Urutagwa: o guerreiro que virou pássaro", escrito por Ubiratã Gomes, com ilustrações de Léa de Camargo Neves, será lançado oficialmente no próximo dia 14 de abril, sexta-feira, a partir das 19 horas, no empório Pão de Maçã, na Avenida Padre Anchieta, n° 4388, bairro Nova Peruíbe, em Peruíbe-SP. A obra relata a luta pela vida de uma aldeia indígena, afetada por uma doença trazida pelo homem branco, sendo a história escrita em Português e Tupi, contando com audiolivro e livro virtual.

O objetivo do Projeto, aprovado pelo ProAC Editais 17/2022, consiste em criar uma obra literária como subsídio a docentes de escolas indígenas, para que tal material possa ser utilizado em salas de aula, trazendo uma realidade mais próxima dos estudantes; dessa forma, 400 exemplares do livro físico serão distribuídos a Escolas Indígenas, Aldeias e Escolas Públicas.

O acesso ao evento de lançamento será restrito aos convidados do autor, da ilustradora e da equipe de produção, devido à capacidade de público do local escolhido; entretanto, a programação principal, uma roda de conversa conduzida pelo autor, será transmitida ao vivo com apoio da TV Mais Litoral e Programa Lucas Bem Te Vi Entrevista; a live será transmitida a todos através do site https://www.urutagwa.com.br/. No site o internauta também pode comprar o livro - autografado pelos autores - e ainda tem acesso às versões audiobook (Audiolivro) e e-book (Livro Digital) da obra literária.
Desde os primórdios da invasão do território brasileiro, muitas doenças foram utilizadas como armas para disseminar vírus contra nossos povos. Diz a belíssima história tradicional do povo Tupi, transcrita pelo líder cacique Ubiratã Gomes, que o canto do Urutagwa é na verdade o grito de dor de um destemido guerreiro Tupi do passado que, por causa do seu luto, pela perda dos seus entes queridos, foi transformado num pássaro pelo Grande Criador do Universo (Nhandedjary). Histórias como esta evidenciam a luta dos povos indígenas contra doenças que não conheciam. Romanceado, bilíngue e ilustrado, o livro apresenta, sob um olhar poético, um pouco da cosmologia e espiritualidade que envolvem e fortalecem a Identidade Étnica do povo Tupi. (Texto extraído da contracapa da obra).
A programação do evento de lançamento começará com a venda dos primeiros exemplares do livro, durante a sessão de autógrafos, cuja receita líquida será revertida em uma doação a duas anciãs que auxiliaram na tradução da obra do Português para o Tupi.

O clímax do evento se dará com uma roda de conversa conduzida pelo autor e os principais participantes do projeto de publicação, com a narrativa ao vivo de trecho da obra na voz da criança Ythainá Dionisio Gomes (Thatá), encerrando com a estreia do audiolivro no canal oficial do livro: https://youtube.com/ @urutagwa.

O encerramento contará, ainda, com uma apresentação artística, por meio da qual os indígenas presentes entoarão alguns cânticos tradicionais.

Publicado pela “Raízes Tupi Produções”, editora do autor, com recursos do Governo do Estado de São Paulo e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, através de Projeto contemplado pelo ProAC Editais 17/2022 - EDITAL DE APOIO LITERATURA /REALIZAÇÃO E PUBLICAÇÃO DE OBRA INÉDITA DE FICÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO PRIORITARIAMENTE -, o livro contou com um minucioso projeto de publicação, sob direção executiva da indígena Maísa Gomes, consultoria editorial de Carina de Luca, revisões de Débora Dionísio e produção artística de Cris Teodósio. A versão audiolivro foi gravada na cidade de Santos, no Estúdio El Sonido, com trilha sonora de Sérgio Tück.


O projeto de ilustração, tanto do livro impresso como das versões digitais, é creditado à talentosa Léa de Camargo, que também orientou a identidade visual do site e demais peças para publicação. A ilustradora é professora e artista plástica, formada pela Faculdade de Artes Plásticas de São Paulo (FABASP), além de explorar sua expressão artística através de diferentes materiais e técnicas, principalmente aquarela, acrílica sobre tela, origami e colagem.

Vale ressaltar que o autor da obra, Cacique Ubiratã, é Professor da Rede Pública de Educação do Estado de São Paulo, possui graduação em Formação Intercultural Superior e formação Intercultural do Professor Indígena pela Universidade de São Paulo (2008). Ele já atuou como professor coordenador no Núcleo Pedagógico da Diretoria de Ensino da Região de São Vicente, onde foi responsável pelo planejamento pedagógico das escolas indígenas de São Vicente a Peruíbe. Atualmente, Cacique Ubiratã é mestrando em educação pela Universidade Católica de Santos, com ênfase em Educação escolar indígena e Historiografia. É também integrante do Núcleo de Educação Indígena do Estado de São Paulo e do Fórum de Articulação dos Professores Indígenas do Estado de São Paulo (Fapisp). Ubiratã Gomes se destaca pela luta em prol dos direitos dos povos indígenas do Brasil.

Texto base: Lucas Galante
Reconstrução: Elaine Marques dos Santos
Revisão Final: Cris Teodósio

Foto 1 (Cacique Ubiratã): Rodrigo Pertesson
Foto 2 (Thatá): Eduarda Alcântara
Foto 3: (Lea de Camargo Neves): Lucas Galante

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Contribuições da Educação Musical para os Processos de Socialização no Século 21

Estudo de Caso e Perspectiva Neuropsicopedagógica

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA, NEUROPSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA

CESAR, Cris Teodósio

Santos-SP, 2021.

Páginas: 30; Folhas: 31; 30cm.

Orientador: Geancarlo Almeida Antues

Artigo Científico apresentado para obtenção do título de Especialista em Educação Especial e Inclusiva, Neuropsicopedagogia Institucional e Clínica do curso de Pós-graduação Latu Senso da Instituição de Ensino Superior FSG / ISEED FAVED.

Palavras-Chave: educação especial, educação musical, inclusão, musicoterapia, neuropsicopedagogia.

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Dedicatória

À mestra poetisa Marilena Soneghet, por seus ensinos preciosos, por sua generosidade e amizade, gratidão.

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Agradecimentos

À Sonia Teodósio, amiga e mãe nesta vida, a meus irmãos e irmãs, gratidão. Ao amigo e parceiro de trabalho Fábio Luiz Rodrigues, gratidão. Ao Universo, por conspirar a nosso favor, gratidão.

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Sumário

I. Introdução, 8

  • O Mundo BANI, p. 10
  • Utopia versus Loucura, p. 11
  • Música no Século 21, p. 12

II. Metodologia, p. 13

III. Resultados e Discussões, p. 14

1. Amostras e Provas, p. 14

2. Da Intervenção, p. 16

IV. Notas e Comentários, p. 18

V. Uma Perspectiva Neuropsicopedagógica, p. 20

  • Neurociência e Pedagogia no Século 21, p. 20
  • A Massa Colorida, p. 22
  • Contribuições da Neuropsicopedagogia, p. 24

VI. Conclusão, p. 26

VII. Referências Bibliográficas, p. 29

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Resumo

Com base na documentação bibliográfica revisada e estudo de caso, notas e resultados, o artigo apresenta contribuições da Educação Musical para os processos primário e secundário de socialização no início do século 21, em especial no contexto da Pandemia, considerando o seu uso na Educação Especial e Inclusiva, em uma perspectiva neuropsicopedagógica.

Palavras-chave: educação especial, educação musical, inclusão, música e sociedade, musicoterapia, neuropsicopedagogia.

Abstract: Based on the revised bibliographic documentation and use case, notes and results, the article presents arguments that justify the contributions of Music Education in the primary and secondary processes of socialization in the beginning of the 21st century, especially in the context of the Pandemic, considering its use in Special and Inclusive Education, from the perspective of neuropsychopedagogy.

Key Words: special education, music education, inclusion, music and society, music therapy, neuropsychopedagogy.

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p. 08

I. Introdução

Para Nietzsche:

“[...] sem música a vida seria um erro”^1  (NIETZSCHE, 1888, Sentenças e Setas 33)

Para muitos de nós, no entanto, educadores, maestros, musicistas, instrumentistas, a vida sem música seria simplesmente inimaginável.  A importância dessa linguagem é tamanha que não há no mundo pátria sem hino, exército sem hino, igreja sem hinos e louvores, equipes esportivas sem hino, festas sem música, casamentos sem música etc. 

Evidencia-se a importância da educação musical para os processos de socialização já na Grécia Antiga (Figura 1), onde e quando a música era associada ao divino; e aceita pela sociedade como remédio para o corpo e para a alma. Segundo Platão:

“Primeiro, devemos educar a alma através da música” (PLATÃO, 370 a.C, A República, Livro II 376e)^2.

Nietzsche, no entanto, vai além, e usa o fenômeno da música, senão vejamos, entrada pelos ouvidos para ilustrar a sua tese sobre a existência. Contudo, na história da humanidade, podemos observar a educação musical, desde os primórdios, diretamente relacionada aos processos de socialização.

Um bom exemplo das contribuições da música no processo de socialização primário é a existência das cantigas, parlendas e cirandas que cantamos para as crianças de colo (algumas vezes ainda no ventre), expressões poético-musicais por meio das quais buscamos transmitir nossos valores, nossas tradições e culturas, quer populares, quer religiosas entre outras.

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1) Do original: "Ohne Musik wäre das Leben ein Irrtum", livro Crepúsculo dos Ídolos, Sentenças e Setas 33. Turim, 1888. 
2) PLATÃO, 428 a.C. - 347 a.C. A REPÚBLICA, LIVRO II, 376e. Grécia Antiga, 370 a.C.

p. 09


Figura 1 - Musa Euterpe
Do Original: Euterpe (Muse der lyrischen Dichtung). Pintura de Jakob Emanuel Handmann, datada de 1775, representa a divindade da Música na Grécia Antiga.

(Fonte: Wikimedia Commons <https://commons.wikimedia.org>. Acesso em 08/11/2021)


Por sua vez, no processo de socialização secundário, se, por exemplo, o indivíduo é matriculado em uma escola, ou iniciado em alguma religião, pode vir a ser que o seu educador lhe ensine a cantar um hino, que fale de morrer pela pátria ou de amar a um deus; ideologias que a música o ajudará a decorar, a "guardar no coração", mas que claramente induzem a formação do seu caráter.

A Educação Musical, entretanto, se conduzida de maneira libertária e democrática, oportuniza, acima de tudo, acesso a uma linguagem especial, universal, que possibilita ao indivíduo, por exemplo, expressar o que há por dentro enquanto denuncia o que há por fora.

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p. 10

O Mundo Bani

Recentemente, o mundo passou por grandes mudanças em um curto espaço de tempo. Com a chegada da Globalização, tornou-se volátil, incerto, complexo e ambíguo (VUCA)^3. E antes mesmo que pudéssemos absorver tais mudanças de pensamento e comportamento, o advento da Revolução Digital, especialmente associado à Pandemia (2019 aos dias atuais), marcando fortemente o início do século 21, apresenta-nos um mundo frágil, ansioso, não-linear e incompreensível (BANI)^4. 

De fato, a fragilidade do mundo tornou-se evidente. Haja vista o imensurável estrago testemunhado durante a Pandemia, tragédia sem precedentes, principalmente diante de tanto avanço tecnológico, causada por um simples vírus.

Ansioso, cada vez mais, e agora com medo. Senão vejamos, o ser humano vem usando a tecnologia para acelerar o mundo: veículos, construção civil, produção de armamento militar, reprodução de animais para abate, germinação de sementes, tudo superacelerado não em face da necessidade humana comum, mas sim dos interesses capitalistas.

Neste mundo não-linear e incompreensível precisamos de uma pergunta para além das clássicas “quem sou, de onde vim, para onde vou”; precisamos nos perguntar: o que queremos para a nossa existência?

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3) Do original: Volatility, Uncertainty, Complexity, Ambiguity. Criado na década de 90 pelo U.S Army War College em referência ao mundo pós-Guerra Fria. (CASCIO, J. Facing the Age of Chaos. Institute for the Future. Disponível em <https://medium.com/@cascio/facing-the-age-of-chaos-b00687b1f51d>. 29/04/2020. Acesso em 27/08/2021).
4) Do original: Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible. Termo reputado ao antropólogo Jamais Cascio. Representa evolução natural do mundo VUCA. (CASCIO, J. Facing the Age of Chaos. Institute for the Future. Disponível em <https://medium.com/@cascio/facing-the-age-of-chaos-b00687b1f51d>. 29/04/2020. Acesso em 27/08/2021).

p. 11

Utopia versus Loucura

Imaginemos um mundo em que a todo ser humano seja garantido o direito de experimentar a sua criatividade, a oportunidade de se expressar através da mistura de cores, sons, formas, sabores, ideias. Então seriam exércitos de artistas pelo mundo, poetas, pintores, dançarinos, cantautores e filósofos. Disto, dir-se-ia utópico. E, no entanto, a realidade que se nos envolve em pleno século 21, de crianças e jovens armados e preparados para matar, por exemplo, há de parecer loucura.

De fato, o ser humano ainda precisa de exércitos porque não evoluiu o bastante. Se evoluir ao ponto de não precisar mais de exércitos, a ideia de um jovem segurando uma arma tornar-se-á uma ideia surreal.

Para Foucault:

"entre loucura, civilização e sensibilidade, pois que as atividades do homem na civilização, sendo demasiado artificiais/antinaturais, (e.g. vida de gabinete, leitura demasiada de romances, etc.), constitui esse meio no qual a loucura pode surgir." (FOUCAULT, 2007)
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p. 12

Música no Século 21

A música traz em si o poder da inclusão e, para além, da união entre as pessoas, da amizade e do encantamento. Associada às novas tecnologias, espalha-se velozmente pelo mundo produzindo e reproduzindo emoções, comunicando ideias, socializando-nos. 

Podemos constatar que a música permanece igualmente indispensável para a humanidade e diretamente relacionada aos processos primário e secundário de socialização no século 21 . E para exemplo da importância do seu uso devemos citar o trabalho do musicoterapeuta, que:

"[...]exerce sua atividade no âmbito da saúde, da educação e da assistência social". (UBAM, 2019)

A musicoterapia serve para:

“[...] promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, para alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas”. (UBAM, 2019)

Neste sentido, a música possibilita a comunicação verbal e não verbal, fisiológica e psicológica entre os indivíduos que a compartilham, vindo a se tornar uma importante ferramenta no contexto deste conturbado início de século.

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p. 13

II. Metodologia

Trabalho de natureza exploratória. Pesquisa realizada com base no estudo de caso que permitiu observar as contribuições da Educação Musical no processo de socialização secundário dos educandos, com foco na Educação Especial e Inclusiva, a partir do projeto “Música em Santa Cruz dos Navegantes”, realizado em parceria com o Instituto Professor Amaro de Araújo Lima Sobrinho (INPRA) no município de Guarujá-SP, no período de março a maio de 2021.

Contou com público beneficiado pelo projeto sociocultural composto por crianças e adultos, do sexo masculino e feminino, todos de famílias de baixa renda, moradores do bairro Santa Cruz dos Navegantes.

O método adotado foi o hipotético-dedutivo, a partir da formulação de “hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva”, de acordo com Cruz e Ribeiro (2004, p. 50). A técnica de pesquisa, por conseguinte, baseia-se na utilização de documentação indireta, pesquisa bibliográfica e pesquisa documental.

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p. 14

III. Resultados e Discussões

1. Amostras e Provas

Os trechos a seguir foram extraídos dos Relatórios de Campo enviados ao INPRA durante o Projeto “Música em Santa Cruz dos Navegantes”:

Em 05/04/2021

[...] muitos dos que se inscreveram inicialmente não apareceram para ocupar suas vagas. No entanto, com a experiência das primeira aprendências os próprios jovens foram trazendo consigo outros aprendizes [...]

[...] os instrumentos comprados, ao tentarmos afiná-los e colocá-los realmente em uso, apresentam muitos defeitos [...]

[...] alguns jovens trouxeram violões usados, danificados (ótimos violões) que estamos recuperando, reformando.

Sobre o período do “FECHA-TUDO”:

[...] para manter minimamente em dia o atendimento aos aprendizes do projeto, durante esse último período de isolamento obrigatório [...] foram distribuídas bolsas de estudo, com emissão de certificado de conclusão, para o Curso "Iniciação Musical com Instrumentos Caseiros" 40h [...]

Em 26/04/2021

[...] o programa segue, atendendo a comunidade, especialmente promovendo oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento pessoal. [...] tenho trabalhado, além do grupo como um todo, com cada qual em particular, buscando compreender as suas necessidades, a maneira como aprende e, especialmente, como a Educação Musical pode ajudá-lo a sentir-se mais feliz e realizado.

Vimos estudando, conforme é sabido, a obra do compositor popular paulistano Walter Franco, falecido a cerca de dois anos, autor de uma das mais importantes discografias da história da música no período da ditadura militar. Contudo os jovens aprendizes têm estudado, para além da teoria e


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p. 15

da prática dos instrumentos, a história da nossa música e do nosso povo, tendo em vista que a música também é uma ferramenta transformadora social.

Em 31/05/2021

No último dia 21/05 apresentamos [...] aos aprendizes, seus convidados e representantes da comunidade o espetáculo digital "ACORDAÍ" em homenagem ao finado compositor Walter Franco, cuja obra fora estudada no decorrer do projeto Música em Santa Cruz dos Navegantes.

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p. 16

2. Da Intervenção

Promovido pelo Instituto Professor Amaro de Araújo Lima Sobrinho (INPRA), o projeto "Música em Santa Cruz dos Navegantes" foi uma iniciativa (Figura 2) comunitária para realização de um curso introdutório de música popular para moradores daquela comunidade, crianças, jovens e adultos, do sexo masculino e feminino, cujas aprendências, de canto coral, violão e violino (ou rabeca) ocorreram de modo semipresencial entre os meses de março a maio de 2021.


Figura 2 - Música em Santa Cruz dos Navegantes
Registro Fotográfico do Espaço de Aprendências
(Fonte: INPRA, 2021)


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p. 17

Recortado de uma revista eletrônica, o trecho a seguir resume as condições de vida na comunidade Santa Cruz dos Navegantes, onde foi realizada a intervenção:

"De um lado, está a poderosa Santos, que de sua longa baía, próximo a Ponta da Praia com os prédios altos e luxuosos [...].

Do outro lado do mar, em menos de dez minutos de balsa, bem próximo a Santos, está a cidade das praias famosas, de águas cristalinas, o Guarujá. É lá, que fica o nosso bairro esquecido, que integra com a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande definida como Patrimônio Cultural.

O bairro que já foi tema da poesia 'Santa Cruz' em 1995, por Mônica Maestre de Aguiar Rodriguez, hoje se torna apenas promessas de uma vida melhor sem perspectivas. Bairro em que moradores deveriam se sentir privilegiados em estar em contato direto com a praia, garantindo e preservando as moradias e a natureza, hoje, lutam contra esgotos a céu aberto e memórias de uma história vã [...]" (NASCIMENTO; TRUCAT; CRUZADO, 2016)
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p. 18

IV. Notas e Comentários

Foram atendidos cerca de vinte a trinta educandos, dentre os quais citarei três, especificamente, ao notificar as principais contribuições conferidas no decorrer da intervenção. Em respeito à privacidade dos educandos, usaremos os seguintes nomes para identificá-los: 'G', 'A' e 'D':

1. O educando 'G', 20, masculino, demonstrou desde o início muito talento e algum domínio sobre os instrumentos. Logo assumiu uma posição de liderança em relação aos colegas;

2. A educanda 'A', 11, feminino, encantou-se com o violino, dedicando-se muito desde o começo, esforçando-se para participar das aprendências e interagir com os colegas embora excessivamente tímida (consideremos um longo histórico de assédio moral sofrido em ambiente escolar, informado pelos amigos e familiares); 

3. A educanda 'D', 40, PCD, feminino, muito extrovertida, demonstrou muita alegria, e até uma certa euforia durante as aprendências. Sem as pernas, D costuma se arrastar pelo chão, com certa habilidade que desenvolveu ao longo dos anos, e o faz com determinação demonstrando que a sua deficiência não a impede de interagir com a sociedade;

4. O educando 'G' demonstrou ser capaz de se socializar muitíssimo bem através da música, tanto no campo emocional como no profissional. Embora já tivesse muito contato com a música antes do projeto, foi atraído na intenção de se socializar e, ao fim da intervenção, já começava a ministrar aulas particulares de violino em sua casa;

5. A educanda 'A' desenvolveu-se muito durante as aprendências, principalmente no campo emocional. Constatou-se a diminuição da sua timidez, bem como a menina mais alegre e otimista, segundo relatos dos familiares e amigos;

6. A educanda 'D' também já era, de certa forma, musicalizada, ou seja, já tinha algum contato com a música, cantava e tocava um pouco de violão. Claramente participava do grupo com objetivo de se socializar, sentir-se parte do meio, útil;

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p. 19
7. Produto desta intervenção, o trabalho audiovisual intitulado "ACORDAÍ", desenvolvido com os aprendizes (incluindo os educandos 'G', 'A' e 'D' ora apresentados), foi apresentado aos aprendizes, seus familiares e membros da sua comunidade durante o evento de encerramento do projeto, disponível no endereço eletrônico <https://drive.google.com/file/d/13PgldIE8Eq2nIKylDPoVWah7Icvkh1Io/view?usp=sharing>.
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p. 20

V. Uma Perspectiva Neuropsicopedagógica

Neurociência e Pedagogia no Século 21

Para o neurocientista Idan Segev, professor de Neurociência Computacional na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, um dos maiores desafios que se apresenta para o Século 21 é:

“(..) entender como os processos neuronais subcelulares e celulares dão origem ao comportamento - movimento, percepção, emoções, memória e criatividade." (SEGEV, 2013)

Neste sentido, buscamos saber sobre como um comportamento é gerado a partir de uma rede neural. Para tanto, vêm se desenvolvendo ciências transdisciplinares, a partir da fusão de ciências fundamentais como Matemática e Física, Medicina e Ciência da Computação. 

“Haverá um tipo muito renascentista de pesquisadores que serão capazes e terão que dominar muitos, muitos campos. Eles terão que dominar teoria, física e matemática, e ciências da computação, eles terão que dominar alguns aspectos de doenças neurológicas e doenças psiquiátricas. Eles terão que dominar a anatomia e a estrutura do circuito do cérebro” (SEGEV, 2013)

Diferentemente do que pensávamos até pouco antes do fim do século 20, que o estudo do cérebro estaria restrito aos biólogos, enfim percebemos que estes saberes são importantes para muitas ciências.

“[...] o aluno, o novo aluno, o estudante de neurociência, terá que estudar todos esses campos. Ele terá que saber um pouco sobre psicologia cognitiva, neurologia, física e engenharia, será um novo tipo de estudante. Não vai ser tão particular e tão limitada como para os pesquisadores do século 20, esta é a pesquisa cerebral do século 21” (SEGEV, 2013)

De fato, a neuroanatomia moderna já nos permite a obtenção do mapa sináptico a nível celular. E pela primeira vez na história, temos a anatomia 3D completa de todo o tecido cerebral, comportando desde o estudo das conexões

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estruturais (connectomics^5) e funcionais do cérebro até a simulação computadorizada do funcionamento de um cérebro, como ocorre no caso do “Projeto Cérebro Azul” (do original Blue Brain Project^6) de IBM, EPFL e associados (Figura 3).

Conhecer a fundo as estruturas cerebrais a nível celular pode nos servir para reconstruir uma parte de um cérebro, por exemplo, bem como colaborar para a descoberta da cura para muitas de nossas doenças.


Figura 3 - The Blue Brain Project
(Fonte: Galeria de Imagens EPFL, 2021)


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5) O estudo das conexões estruturais e funcionais do cérebro entre pilhas, que é visualizado como um connectome.
6) Projeto, iniciado em maio de 2005 por IBM, EPFL e ETH Zürich, que objetiva criar uma simulação computacional do cérebro de mamíferos, incluindo o cérebro humano.

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A Massa Colorida

Em 2007, pesquisadores de Harvard desenvolveram uma técnica genética molecular, que serviu para intervir com os genes, no caso, de um rato. Uma espécie de “milagre da biologia molecular” que nos possibilitou entrar em um genoma para de fato manipulá-lo, redesenhá-lo, a Tecnologia Brainbow^7 utiliza cores para classificar neurônios (Figura 4) e facilitar a visualização dos circuitos sinápticos pelo mapeamento cerebral, permitindo distinguir os neurônios dos seus vizinhos através do uso de proteínas fluorescentes.


Figura 4 - Brainbow Technology
(Fonte: Harvard University Brain Tour, 2021)


A partir destes avanços, tornou-se possível e indispensável estudar o que acontece no cérebro no momento de uma aprendizagem. Caminho pelo qual constatamos que ocorrem mudanças/alterações anatômicas no cérebro quando se aprende, por causa da plasticidade cerebral.

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7) Técnica de marcação de células genéticas onde centenas de tons diferentes podem ser gerados por expressão estocástica e combinatória de algumas proteínas fluorescentes espectralmente distintas. 

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Segundo Guerra:
“Neuroplasticidade é a propriedade de “fazer e desfazer” conexões entre neurônios. Ela possibilita a reorganização da estrutura do SN e do cérebro e constitui a base biológica da aprendizagem e do esquecimento. Preservamos as sinapses e, portanto, redes neurais relacionadas aos comportamentos essenciais à nossa sobrevivência. Aprendemos o que é significativo e necessário para vivermos bem e esquecemos aquilo que não tem mais relevância para o nosso viver”. (GUERRA, 2011, p.5,6)

Logo, podemos compreender a importância do avanço da Neurociência para a Educação, bem como do surgimento de ciências transdisciplinares, como é o caso da Neuropsicopedagogia.


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Contribuições da Neuropsicopedagogia

A Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar que tem por missão compreender as funções cerebrais para melhor compreensão do processo de aprendizagem. Em outras palavras, aprender como se aprende com intuito de ajudar o indivíduo ou o grupo a aprender mais e melhor.

De acordo com a Nota Técnica Nº02/2017 publicada pela Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia:

“Os estudos mostram que a Neurociência não fornece estratégias de ensino, pois este papel é da Pedagogia, que utiliza os conhecimentos da didática e das metodologias de ensino como suporte para o ensino e aprendizagem. É a Neurociência e a Psicologia Cognitiva que possibilitam compreender a aprendizagem, ressaltando os aspectos desde as questões neurológicas e biológicas, até a cognição. A primeira, por meio de experimentos comportamentais e do uso da ressonância magnética, tomografia, entre outras técnicas, observa as alterações do cérebro durante o desenvolvimento. A segunda refere-se ao estudo do conhecimento investigando aprendizagem, pensamento, raciocínio, formação de conceitos, memória, inteligência. Volta-se para os significados, levando em consideração evidências indiretas para explicitar como os sujeitos percebem, interpretam e utilizam o conhecimento adquirido. O estudo destas áreas fundamenta o neuropsicopedagogo clínico e institucional a compreender o desenvolvimento global do ser humano, bem como suas dificuldades de aprendizagem” (SBNPp, 2017)

O surgimento da Neuropsicopedagogia é resultado do avanço da ciência como um todo. Por séculos a fio as instituições religiosas assumiram a demanda da educação de crianças, adolescentes, jovens e adultos, muitas vezes submetendo o educando, quando na condição de aprendente, a sincretismos e metodologias impregnadas de preconceitos, ignorando a maneira como o indivíduo aprende e quaisquer outras vias que não aquelas preestabelecidas com base nos interesses da instituição, que, por sua vez, representa os interesses de uma sociedade ou classe social específica.

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Mesmo o Estado, ao tomar posse dessa demanda, mantém uma grade curricular com base nos interesses daquela sociedade, uma vez que não haja qualquer seta que aponte caminhos factualmente eficazes para o melhoramento do processo de ensino-aprendizagem do ser humano. Todavia os estudos sobre o cérebro avançaram de tal modo que as evidências se fizeram incontestáveis e alguma mudança inevitável.

O caminho é de cima para baixo, senão vejamos, a mudança começa no alto escalão da Neurociência, da Anatomia Moderna e da Neurociência Computacional, por onde discorrem teóricos renomados, influenciando as academias. Com isso, novas ciências, ciências transdisciplinares vão surgindo, e consequentemente novas especializações e cursos de graduação. Não se pode ignorar a importância de descobertas tão significativas. É um caminho sem volta, mais cedo ou mais tarde, novas e modernas tecnologias chegam às salas de aula, chegam aos nossos jovens, adolescentes e crianças, independente das nossas crenças. Os paradigmas vão sendo derrubados, um a um, e naturalmente dão origem a novos paradigmas que se tornam novos desafios. Este é o caminho do neuropsicopedagogo:

De acordo com a Nota Técnica Nº02/2017 publicada pela Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia:

“A luz da neurociência, a seleção dos estímulos adequados para produzir a aprendizagem, considerando a qualidade deles, poderá determinar a efetividade da aprendizagem do sujeito. A percepção capturada pelo sistema nervoso periférico, levado através de corrente elétrica ao cérebro localizado no sistema nervoso central, desencadeará um processo de reelaboração dos conhecimentos, que até então foram compostos pelo sujeito aprendente”. (SBNPp, 2017)

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VI. Conclusão

Em face ao desenvolvimento da ciência, pouco a pouco desmoronam as estruturas do sincretismo, especialmente do religioso. O preconceito dá lugar ao comprobatório. A exemplo disso, analisemos o trecho bíblico citado a seguir, cujo conteúdo remonta parte da história da medicina judaica, senão vejamos:

“23.Et lorsque l`esprit de Dieu était sur Saül, David prenait la harpe et jouait de sa main; Saül respirait alors plus à l`aise et se trouvait soulagé, et le mauvais esprit se retirait de lui." (Bíblia Católica Online. Sam1 16:23)

Tradução (da mesma fonte):

“23.E sempre que o espírito mau de Deus acometia o rei, Davi tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau o deixava." (Bíblia Católica Online. Sam1 16:23. Acesso em 07/11/2021, Disponível em: <https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-de-jerusalem-vs-biblia-ave-maria/1-samuel/16/>)

Na versão em português, ao ouvir o som da Harpa (tocada por Davi), o Rei Saul ‘acalmava-se, sentia-se aliviado’. No entanto, em francês podemos observar mais detalhes dos sintomas do rei: ‘Saül respirait alors plus à l`aise’ que pode ser entendido por ‘Saul respirou com mais facilidade’.

No texto em Latim, disponibilizado pelo Vaticano, aparece, no mesmo trecho, a palavra ‘refocillabatur’ que pode ser traduzida em português para ‘revigorado’:

“23 Igitur, quandocumque spiritus Dei arripiebat Saul, David tollebat citharam et percutiebat manu sua; et refocillabatur Saul et levius habebat: recedebat enim ab eo spiritus malus.” (Liber Primus Samuelis, Nova Vulgata, Vetus Testamentus. Texto completo disponibilizado pelo Vaticano no endereço: <https://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulgata/documents/nova-vulgata_vt_i-samuelis_lt.html#16>. Acesso em: 07/11/21)

Revigorar, neste sentido, significa recobrar saúde, reaver forças, ou, como hoje é sabido, reequilibrar-se.

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Partindo de um ponto de vista hipotético-dedutivo, os sintomas de Saul apresentam um quadro típico do que hoje conhecemos por Síndrome do Pânico. O contexto da sua vida, enquanto rei, em tempos tão remotos, de guerras e de muitas ameaças promove o ambiente estressante ideal para o surgimento do pânico.

Cientificamente denominada Ansiedade Paroxística Episódica, a Síndrome ou Transtorno do Pânico está relacionada com a liberação de adrenalina diante de um falso perigo, fruto da imaginação do indivíduo mediante pensamentos ruins com os quais, naquele momento, não consegue lidar. Um desequilíbrio hormonal que apresenta vários sintomas dentre os quais podemos destacar a aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração, seguida de falta de ar, pressão no peito, suor frio, tonturas, formigamento e medo de desfalecer. Por princípio o tratamento:

[...] combina medicamentos antidepressivos e ansiolíticos com psicoterapia e deve ser conduzido por médico psiquiatra; sua duração vai depender da intensidade da doença, podendo variar de meses a anos, sendo que se trata de um problema que pode ser controlado, mas para o qual não existe a cura completa. A psicoterapia objetiva auxiliar o paciente no resgate da autoconfiança necessária ao domínio das crises, através da consciência de si próprio. (Transtorno do Pânico. Biblioteca Virtual em Saúde MS. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/transtorno-do-panico/> Acesso em: 07/11/21).

Percebe-se, a partir do relato bíblico a respeito das crises de Saul, que a música ocupa o papel do ansiolítico, bem como Davi ocupa o papel de um psicoterapeuta, ou musicoterapeuta, termo mais apropriado para este caso. E, de fato, o relato bíblico faz parte da história da musicoterapia, assim como textos, saberes e artes advindas das mais variadas religiões e culturas espalhadas pelo mundo. Da intuição ao empirismo percorremos para compreender, agora factualmente, os efeitos da música sobre a psique humana. Logo, pode-se deduzir que as frequências dos arpejos de Davi ajudaram a inibir a produção de adrenalina em excesso durante as crises de Saul.

De uma perspectiva neuropsicopedagógica podemos concluir que são muitas as contribuições da educação musical para os processos de socialização, primário e

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secundário, no contexto deste início do século 21, especialmente com o marco da Pandemia causada pela Covid19. A educação musical pode libertar o ser humano para aprender a se beneficiar da música de muitas maneiras diferentes: trabalhando com música, concentrando-se com música, divertindo-se com música, curando-se, reequilibrando-se, revigorando-se com música etc. E, para tanto, importa garantir o seu direito, total e pleno, à educação musical, como parte da sua formação fundamental, para que possa gozar livremente de todos os seus benefícios.


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VII. Referências Bibliográficas

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.
BIBLE. Nova Vulgata, Vetus Testamentus: Liber Primus Samuelis 16:23. Texto completo disponível no endereço eletrônico: <https://www.vatican.va> Acesso em: 07/11/21.
BÍBLIA CATÓLICA ONLINE. Sam1 16:23. Disponível no endereço eletrônico: <https://www.bibliacatolica.com.br/>. Acesso em 07/11/202.
BORGES, T. M. M. A criança em idade pré-escolar: desenvolvimento e educação. 3.ed. Revisada e atualizada. Rio de Janeiro, 2003.
BUENO, ROBERTO. Pedagogia da Música-Volume 1. Jundiaí, Keyboard, 2011.
BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, v. 3. Conhecimento de Mundo. MEC/SEF, 1998.
CASCIO, J. Facing the Age of Chaos. Institute for the Future. 2020. Disponível no endereço eletrônico: <https://medium.com/@cascio/facing-the-age-of-chaos-b00687b1f51d> Acesso em 27/08/21.
CRUZ, C; RIBEIRO, U. Metodologia científica: teoria e prática. 2.ed. Rio de Janeiro: Axcel Books, 2004.
FOUCAULT, M. História da Loucura. São Paulo: Editora Perspectiva, 2007.
FREIRE, P. Política e educação. São Paulo: Cortez, 1997.
GUERRA, Leonor Bezerra. O diálogo entre a Neurociência e a Educação: da euforia aos desafios e possibilidades. P. 5,6, 2011. Disponível no endereço eletrônico: <https://www2.icb.ufmg.br/neuroeduca/arquivo/texto_teste.pdf> Acesso em: 30/10/2021.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Transtorno do Pânico.  Biblioteca Virtual em Saúde MS. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/transtorno-do-panico/> Acesso em: 07/11/21.
NASCIMENTO, D; TRUCAT, J; CRUZADO, P. 2016. Disponível no endereço eletrônico: <https://medium.com/@jssicatrucat/santa-cruz-dos-navegantes-1353b4a7450> Acesso em 03/10/21.
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos Ídolos. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Cia das Letras, 2006.

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PLATÃO – A República - 8° edição; (Introdução, tradução e notas de R. Pereira) Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1996.
GRANJA, C. E. S. C. Musicalizando a escola: conhecimento e educação. São Paulo: Escrituras Editora, 2006.
SBNPp - Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia. Conselho Técnico-Profissional. Nota Técnica 02/2017, p. 3, 2017. Disponível em: <https://www.sbnpp.org.br/arquivos/notas_tecnicas.pdf> Acesso em 03/10/21.
SEGEV, Idaa. Synapses, neurons and brains. #Lesson 1: Brain excitements for the 21st century. Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ). Israel, 2013. 
UBAM - UNIÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE MUSICOTERAPIA. Justificativa para Projetos de Musicoterapia. UBAM, 2019. Disponível em: <https://ubammusicoterapia.com.br/wp-content/uploads/2019/12/Justificativa-para-Projetos-de-Musicoterapia.pdf> Acesso em 03/10/21.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Não Matarás

A 7ª Arte

Desde criança eu sempre sonhei em fazer filmes. Creio que muitas crianças sentem esse desejo pelo mentos uma vez na infância. Eu todavia permaneci sonhando até a maturidade. Hoje, aos 44 anos, meu primeiro curta metragem, feito apenas com um texto, uma entrevista e duas cenas de cinco minutos gravadas com um aparelho smartphone comum, orquestrado pelo parceiro de profissão Luan Campbell, e produzido no Estúdio El Sonido, em Santos, já está online, e inscrito no 12º CINEFANTASY, o Festival Internacional de Cinema Fantástico, na categoria 'Amador'. 

Uma ficção baseada em histórias verídicas que denuncia o nosso egoísmo enquanto seres humanos em sociedade, tendo como exemplo a Fome, que mata milhares de pessoas por ano e que, no entanto, nunca fora combatida com o afinco, dedicação e velocidade com que estamos combatendo ao COVID19.

O filme está disponível no Canal Oficial do Estúdio El Sonido no YouTube, aprecie, curta, compartilhe: https://youtu.be/XWrM9r3_Jh0

Sinopse

Em tempos de pandemia, uma reflexão importante. A Fome mata mais que o Covid19, se fizéssemos os esforços que temos feito para acabar com a Pandemia, não poderíamos acabar com a Fome? 

Ficha Técnica

Áudio e Imagem: Estúdio El Sonido

Edição Geral: Cris Teo

Orquestração: Fulano Pereira

Produção Executiva: Fábio Rodrigues

Participação: Dona Dalva Amélia Teodósio

Narração: Cris Teo

Vozes: Dalva, Sonia e Sandra Teodósio

Texto: Cris Teo

terça-feira, 30 de março de 2021

Educação Musical para Todos

Sem música a vida seria um erro. (F. Nietzsche, 1844-1900)

Atesta a essencialidade da Música na vida do ser humano a famosa sentença de  Nietzsche. E, de fato, desde os primórdios a mais sutil das artes tem, para cada cultura, sua importância. Presente na paz e na guerra, na alegria e na tristeza; não há pátria sem hino, não há mãe que não cante uma cantiga para ninar a criança.

Sim, cantamos para celebrar aniversários e para lamentar a morte, para comemorar vitórias e para chorar derrotas. Mas o pensamento de Nietzsche está claro vai além da questão de se poder ou não poder ouvir. O filósofo enfim  goza de certa liberdade poética para estabelecer analogias que exemplifiquem o seu ponto de vista existencialista. Contudo, parafraseando o dito popular: o mais surdo é aquele que não quer ouvir!

Como hoje é sabido (conforme demonstrado no vídeo exemplo anexo deste artigo), a Música independe da capacidade plena ou parcial de ouvir.


Logo, é mister que surdos e deficientes auditivos também tenham garantidos direito e acesso a Educação Musical.

Tempo para as Belas Artes

Há não muito tempo atrás, cinquenta, cem anos, ainda o homem tinha mais tempo livre, mesmo vivendo em sociedades modernas, para se encantar com passatempos. Nestes tempos passados, no Brasil, eram raras as casas de família em que não houvesse ao menos um musicista. O mundo ainda dependia intensamente da música orgânica e, por volta de 1930, era comum a contratação de cantores e musicistas, aumentando a competitividade entre artistas, culminando no surgimento constante de aspirantes (CALABRE, 2002). CALABRE, Lia. A era do rádio. Rio de Janeiro: Jorge Zaar Ed., 2002.

Com o advento da tecnologia digital, a convenção da Internet e o avanço desenfreado da indústria moderna, o mundo vem trocando de valores. A sociedade tornou-se ainda mais materialista, diminuindo o contato do ser humano com o abstrato e com o profundo.

Ora, o ser humano globalizado que se formou a partir destas mudanças já não tem tempo para escolher, experimentar, aprofundar-se. Precisa ser oportuno, rápido e, para tanto, busca permanecer no raso.

Um País Musical Analfabeto-Musical

No Brasil a cultura Musical é riquíssima. São milhares de talentosos e virtuosos tocadores, violonistas, percussionistas e vocalistas. Parte chega a ser internacionalmente reconhecida e consumida. Generalizando, todo jovem brasileiro sonha ou já sonhou com atingir à fama através da sua arte.

Um fato é que entendemos música, fazemos música, mas poucos de nós sabemos ler e escrever música.  Vale ressaltar que apenas a alguns anos a Educação Musical se tornou obrigatória no Ensino Fundamental e Médio da Escola Normal.

Lei 11.769 determina a obrigatoriedade da música na escola

O presidente Lula sancionou no dia 18 de agosto de 2008, a Lei Nº 11.769, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica. A aprovação da Lei foi sem dúvida uma grande conquista para a área de educação musical no País. Todavia, há também grandes desafios que precisam ser enfrentados para que possamos, de fato, ter propostas consistentes de ensino de música nas escolas de educação básica.

O trecho acima, extraído do site da ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical), disponível no endereço <http://abemeducacaomusical.com.br/artsg2.asp?id=20> até a data desta publicação, apresenta o cenário vivido pela militância pelo direito e o acesso a Educação Musical para todos no Brasil.

Novos Tempos

Enquanto educador musical, especialista em educação especial e inclusiva, penso que a maneira de se aprender e ensinar música pode e deve mudar, abrindo-se novas possibilidades de recursos que apoiem e tornem mais atrativas as aprendências, incluindo, sobretudo a tecnologia. Não funciona comprar instrumentos baratos, sem timbre, sem qualidade, simplesmente porque a legislação exige o menor orçamento. Assim tem sido feito, quando na verdade é preciso um olhar mais técnico. É preciso que se estabeleça, com a ajuda dos profissionais correspondentes, os requisitos mínimos que devem ser atendidos para garantir o melhor investimento. O desperdício de recursos é evidente, tenho observado trabalhando em diversas regiões do país.

Uma sugestão, além da aceitação e inclusão de instrumentos da música regional, incomuns até hoje no ensino de música nas escolas exceto em suas regiões de origem, tais como o berimbau, o pífano e a rabeca, o desenvolvimento de soluções atrativas a partir do uso de novas tecnologias (games, beatbox, apps) tudo pode e precisa ser usado para a criação de propostas consistentes de ensino da Música nas escolas, respeitando e incluindo, especialmente, todas as culturas musicais brasileiras.

domingo, 15 de novembro de 2020

Escola: Papel Social e Desafios Contemporâneos

O Falso Problema

"A escola é um rito iniciático que introduz o neófito à carreira sagrada do consumo progressivo..." Ivan Illich

O papel social da Escola, a priori, está relacionado às políticas sociais de cada povo, comunidade, sociedade ou país. No Peru, por exemplo, a Ancestralidade faz parte da formação escolar do educando, e para concluir o ensino fundamental, todo estudante precisa aprender a tocar pelo menos uma música na Zamponha¹, uma flauta ancestral que ensina a respirar. Naquela região, saber respirar é fundamental para sobreviver subindo montanhas. Neste sentido, o papel social da Escola, para aquele povo, é totalmente distinto do que acontece no Brasil. Aqui, para começar, nós fomos diretamente influenciados, em todos os sentidos, e por se tratar de um país de grandes dimensões, existem muitas Culturas importantes, patrimônio do nosso povo, que foram visivelmente descartadas em favor da introdução de culturas estrangeiras.


No período da Ditadura Militar, na década de 60, o papel da Escola Normal, no Brasil, não considerava, em hipótese alguma, e até discrimina e censurava qualquer manifestação cultural legítima brasileira, privilegiando esportes e culturas internacionais (APUD VAGO, 1996).
 
Por exemplo a Capoeira, o Samba e outras culturas populares autênticas, só hoje em dia são aceitas, regionalmente, em ambiente escolar. Isso porque o modelo de educação que se adotou no país, a partir da década de 60, foi criado para atender a Indústria, nos moldes propostos por Henry Ford² e outros industriais contemporâneos. Um modelo competitivista, técnico, sectário e ultrapassado.

Com o restabelecimento da democracia, o sistema de Educação sofreu diversas mudanças, mas continuou voltado para o consumo e interesses patrióticos e internacionais (SOARES, 1992), com poucas possibilidades de uma ação voluntária por parte do Educador, mantendo-se uma Grade Curricular que nem sempre respeitou/respeita os Direitos do educando.

Neste sentido, o papel da Escola Pública Normal, no Brasil, é questionável, e não pode-se dizer que não está sendo cumprido. Afinal, qual é o Papel deste modelo, que não respeita a necessidade da criança e do adolescente de se manifestarem, o acesso destes aos mesmos espaços e equipamentos ocupados e dominados pela elite, havemos de perguntar. Foi necessário um Regime de Cotas arbitrário para tentar amenizar essa desigualdade de eficiência.

Penso que pode haver um propósito neste aparente fracasso escolar. Enquanto a nossa Educação Pública for sucateada e sub-administrada como vem sendo, empresas estrangeiras continuarão dominando o mercado da Educação no Brasil, menos uma fatia do PIB para a nossa Economia em face do comprometimento do desenvolvimento criativo dos educadores e educandos brasileiros, além de ir causando, pouco a pouco, a extinção de muitas de nossas Culturas.
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1. Zamponha: A 'flauta de Pan'. Instrumento musical dos povos andinos, constituído por um conjunto de tubos fechados numa extremidade, ligados uns aos outros em feixe ou lado a lado.
2. Henry Ford: O Fordismo, o Taylorismo e as linhas de produção como bases do processo produtivo do capitalismo industrial e suas repercussões sociais.

Referências Bibliográficas

DOIN, Germán. Documentário, Argentina, 2012, 115 min. Disponível em<https://youtu.be/NMZrM3Y9ZOE> Acessado em: 14/11/2020.

ILLICH, I. Sociedade sem escolas. Petrópolis: Ed. Vozes, 1985.

SOARES et alli. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez,1992.

VAGO, T. M. O “esporte na escola” e o “esporte da escola”: da negação radical para uma relação de tensão permanente. Um diálogo com Valter Bracht. Revista Movimento, ano 3, n.5, 1996. Disponível em:<http://seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/viewArticle/2228>. Acessado em:14/11/2020.

domingo, 27 de setembro de 2020

OCABS

Quem foi que disse que eu estou chegando agora...



A Organização Cultural e Artística da Baixada Santista (OCABS) é uma iniciativa do artista, compositor e gente bamba Gilberto de Oliveira, atual presidente do Clube de Bambas. A entidade conta com o apoio de pequenas empresas, associados e amigos do Clube de Bambas na cidade de Santos e região da Baixada Santista.

Conheça, faça parte do Clube de Bambas!

domingo, 23 de agosto de 2020

Chet Baker - A Lenda do Jazz

Título original: "Born to be Blue". Um filme sensacional. Dirigido por Robert Budreau, a obra canadense resume parte da vida do jazzista Chet Baker (1929-1988), um dos maiores trompetistas da sua geração. O elenco conta com Ethan Hawke, interpretando Chet Baker, e Carmen Ejogo, interpretando ora Jane, ora Elaine, representando as musas inspiradoras do musicista.

Além de trompetista, Chet Baker era vocalista, dono de uma voz singular, muito especial. Quem conhece um pouco da sua obra sabe que, ao ouvi-lo cantar, é comum sentir arrepios de emoção. Logo, a trilha sonora por Randy Edelman não podia ser melhor, tornando o filme, para além de interessante, encantador e comovente.

Meus heróis morreram de overdose...


O verso (Meus heróis morreram de overdose...), do compositor brasileiro, Cazuza ilustra bem o sentimento dos fãs de Chet Baker. Na verdade sua morte foi misteriosa, aos 58 anos, quando caiu de uma janela do Hotel Prins Hendrik, na madrugada de 13 de maio de 1988, mas a  tragédia principal da sua vida parece ter sido mesmo a sua dependência de heroína, que foi o que mais atrapalhou a sua carreira, levando o musicista muitas vezes à ruína. 
O drama se passa em torno da necessidade que Chet Baker sente de fazer sucesso, de vender discos, de viver da sua obra e, consequentemente, dar orgulho aos seus pais e pouquíssimos amigos. Para Chet é trompete ou nada. No decorrer da história, ressalta-se uma cena: Chet leva uma surra e perde os dentes todos. Com isso, voltar a tocar, e tão bem quanto antes, torna-se primeiro um desafio, depois uma obstinação. O filme em si é uma mistura de documentário com ficção, especialmente focado na história do Jazz, por isso vale muito para quem aprecia, estuda  ou vive de Jazz.
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Disponível em <https://youtu.be/oNy45VXvY4Y> até a data desta publicação.

Drama, Canadá, 2015, 97 min

Direção: Robert Budreau
Roteiro: Robert Budreau
Música composta por: Randy Edelman

sábado, 22 de agosto de 2020

Globalização e Educação a Distância


"A interdependência crescente que se verifica na sociedade de massa é, além disso, multiplicada, já em escala internacional, pela emergência dos chamados problemas globais da humanidade: a impossibilidade de uma guerra na era das armas nucleares de extermínio, a necessidade de enfrentar coletivamente as catástrofes ecológicas, assim como os problemas levantados pelas novas técnicas (...) assim como a antítese seca entre capital e trabalho assalariado."

O trecho citado é a sinopse do livro de Octavio Ianni, A Sociedade Global*, publicado em 1992 e citado até hoje em trabalhos acadêmicos, acima de tudo, dada à qualidade, profundidade e criticidade do texto do sociólogo.

Quase vinte anos depois, com o advento da pandemia da COVID 19, além da situação política mundial, da corrupção sistematizada e do avanço a passos largos da desigualdade social pós-moderna, a obra de Ianni, feito uma profecia que se concretiza, resume bem a visão que temos deste mundo pós-globalizado.

EaD Opcional x Ensino Presencial Obrigatório

Neste sentido a Educação torna-se um instrumento primordial, para que o indivíduo tenha ao menos uma chance de escapar das mazelas do novo mundo, tão mais competitivo quanto mais indiferente ao fracasso alheio.

No entanto a Educação também está comprometida, até certo ponto. A Escola normal atingiu o ápice da incompetência no terceiro mundo, revelando definitivamente o objetivo deste tipo de educação desde o princípio, quando líderes religiosos e empresários se uniram para fundar uma instituição capaz de doutrinar o proletariado, educando filhos de operários para se tornarem operários como seus pais. Enquanto escolas para ricos educavam crianças para se comportarem e agirem como ricos, com etiquetas definidas, vocabulário e comportamento diferenciados, uma forma sutil de separar os ricos dos pobres. Assim se deu a história e, hoje, em pleno século XXI, podemos enxergar o resultado dessas manobras.

Todavia, com a globalização chegou também o acesso a tecnologias que tanto servem para uns, como para outros. A Educação começou a se libertar das grades curriculares, e muitos jovens pobres buscam acesso a informações, conhecimentos e técnicas que não são disponibilizadas pela escola normal, mas através da internet. De repente abriram-se as portas das bibliotecas para quase todos. Um pobre pode ter acesso à mesma aula de um rico. Sociedades e organizações acadêmicas do mundo todo rapidamente se deram conta da importância do uso das novas tecnologias para propagação do conhecimento ora produzido, e praticamente todas as instituições passaram a oferecer cursos na categoria EaD (Educação a Distância).

Neste sentido, o ensino presencial obrigatório robotiza educandos, por meio de um sistema de ensino humanizado. Em contrapartida, a educação a distância (EaD) opcional humaniza educandos, através de um sistema de ensino robotizado. A meu ver a EaD opcional sugere um sistema educacional mais democrático, e menos egocêntrico. Não é sempre que estamos dispostos a refletir, participar, colaborar ou dar atenção a um professor. Muitas vezes os educandos chegam na sala de aula já cansados, ou preocupados com eventos do seu cotidiano, muitas vezes não está preparado naquele momento para fazer uma avaliação. A educação a distância permite ao educando gerenciar e decidir a velocidade do seu progresso, bem como auto-avaliar-se quanto ao seu desempenho, promovendo mais consciência e combatendo a alienação social.

Um ponto de vista otimista:

A escola normal está em xeque, não necessariamente deve ser extinta, a meu ver, mas precisa ser repensada, urgentemente. Faz-se necessário, e já se inicia, um processo de desescolarização da escola normal. Provavelmente deve-se aplicar técnicas da educação a distância no ensino presencial e isto já vem acontecendo. Penso que esta fusão poderá contribuir para o surgimento de um sistema educacional público mais atraente, funcional e competente.

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*Ianni, Octávio (1992). A Sociedade Global. Civilização Brasileira. ISBN 9788520001004

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Semana do Xadrez

 ADX 2.0

Encerra hoje a Semana do Xadrez 2.0, o mair evento gratuito de Xadrez da América Latina. Uma iniciativa do mestre enxadrista Evandro Barbosa. O menino é realmente genial! Com apenas 23 anos de vida, já é um dos maiores nomes do xadrez da sua geração. Durante o curso, conforme suas próprias palavras, Evandro apresenta "Um método que acelera brutalmente o aprendizado de xadrez, em que o jogador aprende desde os fundamentos em todos as fases do jogo até entender o as técnicas mais profundas do grandes mestres, conseguindo assim alcançar o próximo nível."

O material do curso ainda está todo disponível, mas não por muito tempo. As aulas são empolgantes, com base em boas partidas, jogadas temáticas, cálculos, estratégias, dicas e histórias de vida do jovem mestre. Ao todo, quatro vídeo-aulas e um vasto material complementar de treinamento, tudo de alta qualidade. 

As comunidades de xadrez vem crescendo significativamente no Brasil e no mundo. A iniciativa de Evandro Barbosa, neste sentido, é uma excelente oportunidade, tanto para amantes do esporte, como para quem está iniciando no jogo.